A palavra “woke”, derivada do inglês “wake” (acordar), surgiu na comunidade afro-americana como um chamado à consciência sobre injustiças raciais. Em 1962, o escritor William Melvin Kelley utilizou o termo em um artigo no The New York Times, destacando a importância de estar “acordado” para as desigualdades sociais.
Com o tempo, especialmente após o movimento Black Lives Matter, o termo “woke” passou a abranger uma gama mais ampla de causas sociais. Entre elas estão os direitos LGBTQIA+, o feminismo e a justiça climática. Em 2017, o dicionário Oxford incluiu o termo, definindo-o como “estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo”.
Apesar disso, há divergências quanto ao caráter positivo ou negativo do conceito. Isso ocorre porque o termo também adquiriu conotações pejorativas entre seus críticos. Esse uso crítico é mais comum entre grupos conservadores, principalmente diante da crescente polarização política.
No Brasil, o “woke” possui outras vertentes, como a “lacração” ou o “politicamente correto”.
Woke na política
Críticos da chamada “agenda woke” argumentam que essa cultura prioriza o progressismo acima de qualquer ideia. Além disso, dizem que pode ser excessivamente punitiva, promovendo o “cancelamento” de pessoas por opiniões ou ações consideradas ofensivas.
O ex-presidente Barack Obama, por exemplo, criticou essa tendência em 2019. Ele condenou a prática de julgar os outros com severidade nas redes sociais, alegando que isso não gera mudanças reais. ”Às vezes, tenho a impressão entre alguns jovens… de que a minha maneira de promover mudanças é ser o mais crítico possível em relação aos outros e isso basta”, afirmou.
“Isso não é ativismo, isso não é promover mudanças. Se você só estiver atirando pedras, provavelmente não chegará tão longe”, continuou Obama, o 44º presidente dos Estados Unidos.
Entre as críticas à cultura woke, está a adoção da linguagem neutra. Essa forma busca evitar termos com gênero binário, como “todos” ou “todas”, optando por alternativas como “todes”, “elu/delu”, entre outras.
Em 2023, o governo Lula adotou o pronome neutro em alguns eventos. Especialmente no início do mandato, durante cerimônias de posse de ministros — como os da Fazenda, Direitos Humanos e Cultura — foi comum o uso de expressões como “todos, todas e todes”. Essas falas vieram de cerimonialistas e autoridades, incluindo a primeira-dama Janja e o ministro Alexandre Padilha.
Pela norma da língua portuguesa, o pronome “todos” já inclui de forma linear os gêneros existentes. No entanto, parte da comunidade LGBTQIAPN+ segue defendendo expressões alternativas. O objetivo é ampliar o debate sobre diversidade e representatividade.
A cultura pop e o woke
As críticas à cultura woke também atingiram a cultura pop em diversos níveis. No entanto, elas se destacaram especialmente no cinema. Em 2023, a escolha da atriz Halle Bailey como Ariel no live-action de “A Pequena Sereia” gerou polêmica. Para parte do público, essa escalação representou uma “agenda woke”.
Ariel, estrela do clássico da Disney, é originalmente branca e tem olhos azuis. Entretanto, no novo lançamento, a personagem é interpretada por uma atriz negra. Para os críticos, a personagem deveria manter as características da animação de 1989. Muitos apontaram essa mudança como parte de uma pauta considerada “forçada” ou “vazia”.
Outro exemplo é a franquia “Caça-Fantasmas” que ganhou um longa com um elenco principal feminino e enfrentou críticas significativas. O primeiro trailer tornou-se um dos vídeos com mais avaliações negativas da história do YouTube. O diretor Paul Feig expressou surpresa com a reação negativa, afirmando que não tinha a intenção de criar um palanque político, mas apenas fazer um filme engraçado sobre fantasmas.
A cultura woke nas empresas
O discurso e ações de progressistas em relação a proteção ou promoção da comunidade LGBTQIAP+, de mulheres em cargos de poder ou combate ao racismo chegou até os organogramas de grandes empresas.
Desde a posse de Donald Trump em janeiro de 2025, diversas empresas nos Estados Unidos anunciaram o fim ou a redução significativa de suas políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI). O ponto é amplamente crítico a visões políticas progressistas.
Essa mudança está diretamente relacionada à ofensiva do governo Trump contra iniciativas associadas à chamada cultura woke, que ele e aliados conservadores consideram ilegais ou imorais. Entre essas iniciativas está o desmantelamento de políticas de diversidade e igualdade racial.
Empresas que encerraram ou reduziram políticas de diversidade
- Google: Eliminou metas de diversidade na contratação e revisará suas políticas gerais de DEI, em resposta à crescente pressão política.
- Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp): Encerrou programas de diversidade e inclusão, incluindo a exigência de entrevistar candidatos de origens sub-representadas.
- Amazon: Reduziu seus esforços para aumentar a diversidade e inclusão, encerrando programas e materiais considerados desatualizados.
- Walmart: Deixou de usar a sigla DEI e o termo Latinx em suas comunicações; encerrou um programa para promover a diversidade entre seus fornecedores; fechou um centro de igualdade racial; e não informará mais seus dados a uma ONG que classifica as empresas quanto à inclusão LGBTQIAPN+.
- McDonalds: Encerrou seus programas de inclusão e diversidade.
- Ford: Mudará seu programa DEI, incluindo o fim da participação no sistema de recomendação de um grupo de defesa LGBTQ.
- Boeing: Desmantelou seu departamento global de diversidade, equidade e inclusão.
- PepsiCo: Reduziu seus programas de diversidade, equidade e inclusão, deixando de ter metas de representação na força de trabalho e eliminando o cargo de diretor dedicado a DEI.
- Citigroup: Encerrou metas de representação no local de trabalho e removeu a exigência de entrevistar candidatos de origens diversas.
- Barclays (nos EUA): Anunciou a descontinuação de suas metas de diversidade e inclusão nos Estados Unidos, alinhando-se às ordens executivas do presidente Trump que revogam o apoio federal a iniciativas de diversidade.