Querido e gentil leitor, a família mais popular de Londres voltou para seu terceiro ano e após uma segunda temporada duvidosa e um spin-off bem-sucedido, é correto afirmar que a série regressa em sua melhor forma ao se lembrar que seu melhor sempre foi contar histórias de amor. A série também acerta ao ponderar suas narrativas paralelas dando aos personagens secundários profundidade em suas histórias.
A nova temporada se despede, e serve alguns momentos quentes e bonitos, do casal principal da temporada anterior, o Visconde interpretado por Jonathan Bailey e a nova Viscondessa de Simone Ashley, saem de cena no início da temporada com a desculpa de mais uma lua de mel — algo mais justificável que o desaparecimento do Duque interpretado por Regé-Jean Page na primeira temporada — e os holofotes passam para o novo e improvável casal da temporada de casamentos: Colin Bridgerton (Luke Newton) e Penélope Featherington (Nicola Coughlan).
Secundários bem aproveitados
Entretanto antes de falar sobre o casal principal, cabe destacar os núcleos paralelos dessa primeira parte, a showrunner Jess Brownell foi sábia em usar a divisão da temporada em duas partes para focar e plantar algumas sementes para o futuro, como a mudança de comportamento de Eloise Bridgerton (Claudia Jessie) que desde que foi apresentada na série é difícil de ser tolerada, a personagem nessa primeira parte parece centrada e sóbria, ela mantém a sua essência é claro, mas é menos irritante que antes e sua improvável amizade com Cressida Cowper (Jessica Madsen) poderia soar como sem sentindo, mas funciona bem e principalmente dá à personagem de Madsen um pouco de conteúdo, afinal a personagem só figurava como uma típica vilã mimada que implica com as protagonistas, mas agora ela ganha profundidade ao mostrar que a jovem também é uma vítima da desesperadora temporada de casamentos.
De uma forma surpreendente o casal Mondrich, ganhou uma nova trama, se na temporada anterior Will Mondrich (Martins Imhangbe) queria apenas um negócio para dar uma vida melhor a sua família, nesta temporada o personagem recebeu a chance de ingressar na alta sociedade londrina, após seu filho receber uma herança e um título. O casal logo tem que se adaptar à alta sociedade e aos seus conflitos e embora a vida com dinheiro seja muito agradável o casal logo vai perceber que viver na alta sociedade não é essa maravilha toda, isso dá uma nova e interessante perspectiva, afinal um casal que tem uma visão de mundo mais simplista cair tão repentinamente em um mundo novo, pode render boas ideias futuramente.
O principal núcleo secundário certamente é o da mais nova Bridgerton a debutar na sociedade, Francesca (Hannah Dodd) a personagem é para telespectador uma incógnita afinal sempre distante dos holofotes por estar em viagens, Francesca ganha uma nova roupagem na pele de Dodd que assumiu o papel nesta temporada, e ela o faz muito bem, sua Francesca é doce, sem menosprezar o casamento vendo nele uma oportunidade única de uma vida mais tranquila sem toda a confusão que é a vida dos irmãos Bridgerton’s.
O roteiro constrói bem as irmãs Bridgerton, se na primeira temporada havia Daphne que idealizava desesperadamente um casamento não apenas com amor, mas bom o suficiente para a sociedade e o eventual futuro das irmãs, na segunda temporada havia Eloise que era o retrato do desprezo pelo matrimônio e o papel da mulher na sociedade, agora temos Francesca que enxerga em seu futuro casamento a oportunidade de uma vida livre e longe de sua família, não que elas não os ame, mas a personagem certamente gosta de uma vida calma e tranquila, ela gosta do silêncio por isso sua história ainda está apenas no começa e os fãs poderão conhecer mais do pretendente dela John Stirling (Victor Alli).
Infelizmente nem tudo são flores e novamente a série peca em alguns personagens nessa temporada, como o segundo filho de Violet Bridgerton (Ruth Gemmell) Benedict (Luke Thompson) que tecnicamente deveria estar ocupando o lugar de Anthony como figura paterna dos irmãos, mas o personagem nessa primeira parte só fica de um lado para o outro perdendo todo o desenvolvimento trabalhado nas temporadas anteriores. Já o núcleo Featherington retorna com mudanças com às duas irmãs de Penélope casadas e com o desafio e obrigação de terem um herdeiro e assim permanecerem com o dinheiro e o título da família, o núcleo consegue ser engraçadinho, mas apenas isso.
O casal da temporada
Com a possibilidade de suas irmãs terem um filho e uma delas se tornar dona da casa, Penélope passa a ver o casamento não apenas como uma necessidade, mas também como sua salvação, para finalmente ter paz e liberdade — muito semelhante à Francesca — a personagem sempre foi uma das queridinhas dos fãs , mas agora ela sai das sombras do papel secundário, para brilhar e como ela brilha, não apenas com seu novo penteado e guarda-roupa sofisticado, elegante e nada amarelo, mas também pelo trabalho incrível de Nicola Coughlan que eleva Penélope ao máximo, a atriz consegue dar a personagem sofrida camadas inteiras, fazendo o telespectador sorrir, rir e chorar com a mais nova dos Featherington’s.
A série retorna com uma ideia já abordada antes na primeira temporada, onde Colin se oferece para ajudar Penélope a encontrar um marido. As coisas saem um pouco do controle é claro, mas Penélope acaba conseguindo um pretendente interpretado por Sam Phillips que cumpre seu papel de possível interesse amoroso, o que faz Colin refletir sobre seu papel na sociedade e o que ele de fato deseja para si.
Por falar no Colin Bridgerton de Luke Newton ele é bom, a série parece finalmente ter decidido importar um pouco da personalidade do personagem dos livros na série, mas a questão é que é tudo muito repentino, o personagem ganhou um arco inédito na primeira temporada e o resultado ajudaria o personagem de Luke Newton a se tornar sua contraparte do livro, um libertino carismático e repleto de histórias para contar, se iniciado na temporada anterior, nessa soa forçada em alguns momentos. Luke Newton faz um bom trabalho e não se pode negar a química com sua coprotagonista, entretanto, o personagem principal acaba se resumindo a ser o par da protagonista, ao invés de também ter sua própria história contada.
A divisão da temporada em duas parece ter sido um acerto da Netflix, deixando o telespectador ansioso para o que vem por aí, servindo para plantar algumas sementes para o futuro, mas não apenas isso, ela serviu para a construção do romance principal. Além disso, reforçou o que o universo de Bridgerton faz de melhor, grandes cenas de bailes, com diversos momentos musicais invejáveis, cenários e figurinos ainda mais bonitos que os de temporadas anteriores, os dramas familiares e, claro, fofocas quentinhas.
O que esperar da segunda parte?
Pelo trailer liberado pela Netflix a segunda parte da série será reveladora! Com as resoluções sobre o debute de Francesca, o retorno de alguns personagens, o conflito entre Penélope e Eloise e principalmente o embate entre a Rainha e Lady Whistledown que já dura três temporadas e parece ir em direção ao fim.
De fato, a mudança de ordem dos livros para a série causa mudanças no enredo de Penélope, mas a questão é que a maior fofoqueira de Londres é uma peça fundamental em Bridgerton e será muito estranho a série sem ela, o que nos faz pensar se a fofoqueira irá de fato deixar de escrever ou outro personagem assumiria o manto e o trabalho de Penélope.