Crítica: “Scott Pilgrim” decola a outro patamar

Nascendo das HQs do canadense Bryan Lee O’Malley, “Scott Pilgrim: Contra o mundo” (em português) evoluiu das páginas para as telonas em 2010, com uma versão live action de mesmo nome da Universal Pictures. Desta vez, Scott ganha mais uma versão em anime pela Science Saru diretamente da Netflix.

Scott é um jovem adulto desajustado que toca numa banda de garagem e namora uma colegial. No entanto, ele passa a conhecer Ramona Flowers e seus 7 ex-namorados, que precisa enfrentar após se apaixonar por ela.

No entanto, é na série que se recicla todo o elenco do filme na dublagem e reutiliza as produções musicais, tanto dos jogos quanto do cinema. Há uma grande diferença das histórias anteriores.

Scott Pilgrim: Takes Off

Já debutando com selo fresh de 100% no Rotten Tomatoes, o anime se declara aos fãs como um complemento expansivo da obra original, onde toda a equipe atua unida para dar um novo significado a esses contos. O que surpreende é que, para ter isso, em momento algum eles rejeitam as produções anteriores.

Se novas pessoas ousarem embarcar na preciosa vida de Scott Pilgrim, elas certamente não terão problemas se começarem pelo anime. Nele, há uma forma exclusiva de se contar a mesma trama das versões antigas.

Se houvesse a definição da produção em uma única palavra, seria “criatividade”. É genial para todos os envolvidos optar por sacrificar o protagonista de sua história para dar enfoque nos demais icônicos personagens que foram criados.

E conforme a morte de Scott,  já no primeiro episódio, vai se tornando um mistério para Ramona que acabou de conhecê-lo. Vemos, ainda, o potencial da animação em contar as histórias dos personagens tão mal contextualizados por conta da perspectiva que ficava tão presa no papel principal.

As lutas contam histórias, renovam as referências e brincam com os roteiros das outras versões. Em dado momento, tudo até soa como “piadas internas” que o fã mais antigo entende e o novo, ainda assim, consegue se entreter.

Personagens Completos. Mundo Completo.

Os episódios valorizam a tão subestimada Ramona Flowers, que, por causa de seu posto de “Mulher confusa” e “A primeira E-girl”. Ela é tratada como uma personagem rasa desde suas primeiras versões. Na animação, tudo isso se inverte.

Cada personagem de Scott Pilgrim tem suas consideráveis participações. A trama de cada um e aborda temas como a fama, sexualidade, autoestima e acima de tudo o estímulo ao autoconhecimento sem perder a sua essência cômica.

A essência do mundo que alterna entre ingenuidade, jogos, referências de cultura pop e Marketing da Netflix continua a acontecer no mesmo ritmo frenético que os fãs costumam acompanhar. Além disso, supera ao trazer melhores aprofundamentos sobre o passado e o futuro que antes sempre eram deixados como incertos.

Embora que acabe recorrendo a certos clichês como viagem no tempo que vem saturado em produções como Loki, Vingadores Ultimato e outras, desde “De volta para o futuro” a direção não tem medo de assumir esse norte para melhor retratar a necessidade de confrontar a si mesmo e tomar decisões.

E no final, o anime entrega uma versão completa da obra original ao seguir rumos diferentes, acertando de maneira cirúrgica o que seus fãs tanto esperavam e deixando um legado respeitoso para uma nova geração.